domingo, 31 de janeiro de 2010

Entorpecida de paixão

Vestida de princesa do vento vejo sorrisos ao meu redor! Vejo abraçar na varanda a rede e o sol! Se encaixarem em harmonia com o vento que balança as cores penduradas no ar. E vejo sorrisos por todo lugar! Libélulas coloridas subindo as escadas, pousando na cozinha. Pincéis em descanso, sujos de cores depois de trabalhar! Vejo um gramado vermelho abraçado com o conforto no canto da sala. Jardins de flores de pano em almofadas querendo se confortar! Muitas palavras espalhadas por toda parte! A arte, a arte! Palavras escondidas, palavras que aguardam para serem ditas, lidas, escutadas, engolidas, digeridas, abstraídas, absorvidas! Palavras vividas!
Vejo o rastro de saudades deixado por quem se despediu hoje pela manhã levando sorrisos para a Bahia. Vejo sua guia esquecida! E me vejo toda vestida de verde! Vejo os meus sorrisos me vendo passar! Vejo orixás a se abraçar! A borboleta mais linda do meu jardim acordando de cara amassada, com a alma meio embrulhada esperando o toque do momento de se entregar! Olhos verdes e meias coloridas sorriem para mim sentados no chão da sala escutando vinil tocar e picando papel de enfeitar.
Escuto o som dos pássaros que cantam para acordar o mundo! E cantam o dia todo! Escuto também a orquestra magistral dos cachorros uivando por suas cadelas, que tomam banho de lua e garoa neste vale de ruelas. Becos, ecos, e a vizinhança, samba, máquina de lavar roupa, brega, Caetano, sertanejo, liquidificador, desafinados empolgados, outros mais chorosos, gritos de exclamações, BÊBÊÊÊÊ, e os mega fones dos caminhões, vendendo frutas, queijo, gás! Me visita o querer de pegar um carro desses e sair pelos becos vendendo sonhos e distribuindo sorrisos. Vejo bonecas de pano dando cambalhotas no quarto. Tentando saltar de um espaço de avisos! Querendo avisar! Escuto a lembrança contar do momento passado, no qual eu vi na colcha amarela da cama uma esperança, que veio visitar este lar e abençoar os seus. Quando chegou pousou na menina Manu, que foi lá na sala nos chamar. Lembro do olhar brilhante, de dois seres amantes, vendo o movimento do Louva-deus bailar. Vejo a leveza sorrir, seus olhos brilhando a nos observar!
As folhas vermelhas da planta na varanda sentindo o frio chegar, anunciando o outono, chamando o inverno.
Me vejo dançando na sala e cantando pros meus Orixás! Dando de beber e fumar aos Exus, agradecendo a Oxalá, saudando Yemanjá, sorrindo sapeca para os Ibejes, cruzando as espadas com São Jorge e Ogun, invocando Iansã e vendo Xangô me espiar! Saravá!
Vejo sorrisos olhando para mim! A calma querendo sentar!
Pensamentos vem me contar para "acordar que a estrada está a passar"! Vejo o Rio de Janeiro! Já passou março, há muito fevereiro, e o abril já vai acabar! Será o maio perto do mar? Lembro que tenho que deixar o flow me levar e que estou aqui! Fumo e deixo ficar. Vejo a satisfação olhando pra mim com cara de admiração! Chega a vontade de ligar pra pessoas queridas! Ligo, falo sorrindo! Vejo sorrisos sorrindo para mim. E danço. Danço na sala que me abraça. Olho para fora, penduro mais cores no ar! Presas em palitos feitos para rodar quando o vento passar! Vejo, escuto e sinto o vento passar! E vejo as cores rodando, rodando, rodando! E Vinícius cantando, gritando como um bêbado abraçado em seu cão companheiro, na tonga da mironga! Me sinto em meu terreiro! Por isso, peço licença às palavras e me levanto destes escritos. Vou me deitar na rede! ... Sorrio e vejo sorrisos olhando para mim! NA TONGA DA MIRONGA DO CABURETÊ! Um preto veio gritando!
Na vitrola Maria Bethânia afirma: "foi o que tinha de ser".

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